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[Resenha] Dias Perfeitos


Depois de todo o processo que elegeu a vencedora do primeiro concurso literário do blog, inicio hoje as publicações referentes aos livros lidos durante o processo de seleção. Como não poderia ser diferente, começo publicando as minhas considerações sobre a obra vencedora Dias Perfeitos, de Raphael Montes.


Advogado e escritor, Raphale Montes nasceu no Rio de Janeiro em 1990. O autor publicou seu primeiro romance, intitulado Suicidas, em 2010, aos 20 anos. O suspense policial surpreendeu a crítica e o público devido à qualidade da obra. Em 2014, ele publicou seu segundo livro Dias Perfeitos, que também adquiriu prestígio entre leitores nacionais e internacionais, já que os direitos de tradução foram vendidos para 22 países. Em 2015, o autor presenteou os seus fãs com o livro de terror O Vilarejo, que já foi resenhado aqui no blog. Jantar Secreto (2016) foi o último romance publicado pelo escritor.




Dias Perfeitos foi publicado pela editora Companhia das Letras em 2014 e narra a história de Teodoro. Téo, como é conhecido, estuda Medicina na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Longe de ser um garoto popular, o jovem estudante tem como refúgio a sala de anatomia, onde se sente mais a vontade dividindo o ambiente com sua única amiga de faculdade, a Gertrudes, o cadáver de uma velha senhora que ele próprio lhe deu um nome.


Gertrudes era a única pessoa de quem Téo gostava. Desde o primeiro momento, ele soube que os encontros com ela seriam inesquecíveis. Os outros alunos não ficavam tão à vontade. Mal entravam na sala, as meninas tapavam o nariz; os rapazes buscavam manter alguma postura, mas o olhar revelava o incômodo. Téo não queria que notassem como se sentia bem ali. Andava de cabeça baixa, passos rápidos até a mesa metálica.


Téo vive no Rio de Janeiro e divide com a sua mãe um apartamento. Tirando a bizarra amizade com um cadáver, o garoto aparenta ser um jovem como qualquer outro, muitas vezes introspectivo e reservado. Entretanto, o surgimento de Clarice na trama ajuda a desvendar a verdadeira identidade de Teodoro. Clarice é estudante de História da Arte, mas tem como grande paixão a produção de roteiro.


Os jovens se conhecem em um churrasco, que Téo é levado pela mãe. O encontro acontece inesperadamente e, em um curto período de conversa, Teodoro desenvolver uma paixão doentia por Clarice. A obsessão amorosa do jovem dará o tom de toda a história, pois o desejo desenfreado do garoto despertará o lado psicopata adormecido dentro dele. Usando de violência física e psicológica, Téo inicia um jogo com Clarice, no qual pretende convencê-la a ficar ao seu lado, isto é, ser seu namorado. A grande questão é onde essa loucura vai dar.


Acompanhou sua respiração, sintonizando-a à dele. Sentou na beirada da cama, observando-a de perto, mas ainda a uma distância respeitosa. Não queria parecer doente ou maníaco. Com o tempo, ele ia provar a Clarice que ela estava errada. Jamais seria capaz de cometer abusos: faltava-lhe o instinto animal que os homens ganham ao nascer. Essa era apenas uma de suas qualidades. Se houvesse mais gente como ele, o mundo seria melhor.


O livro é narrado em terceira pessoa e apresenta uma linguagem simples, fluida e convidativa. Apesar de narrado em terceira pessoa, ele é escrito sob a perspectiva de Téo. A narração da história apresenta-se com um dos grandes trunfos do livro, pois ela dá conta de retratar a personalidade psicótica do protagonista. Ter a oportunidade de constatar a obsessão e a loucura doentia do personagem, foi um dos principais aspectos que me prendeu do começa ao fim da obra.


Dias Perfeitos é aquela trama que ganha o leitor nas primeiras páginas e passa toda a narrativa o surpreendendo e o encantando. Eu especificamente fiquei tão fascinado com a leitura que terminei a obra em poucas horas. A tensão que é uma das tônicas do livro ajuda a prender a atenção do leitor. Além disso, têm as reviravoltas da narrativa que deixam qualquer um desconcertado e de boca aberta. A reviravolta mais surpreendente, logicamente, está reservada para o desfecho da história, que para alguns será interpretado com trágico, mas que me deixou alucinado. Para mim, o livro não poderia ter um fim melhor.



Até ter contato com Dias Perfeitos, ainda não conhecia Raphael Montes. Hoje considero o autor um dos meus autores favoritos. Ainda não tive a oportunidade de ler Suicidas e Jantar Secreto, mas lendo Dias Perfeitos e O Vilarejo, percebi a habilidade que Montes tem com a escrita. A criatividade e a habilidade de transitar por vários estilos de escrita, a meu ver, faz de Raphael Montes um dos grandes autores da contemporaneidade.


Não é uma tarefa fácil retratar em poucas palavras as qualidades de Dias Perfeitos. Acho que a melhor forma de conhecê-lo é lendo. Tive tanta satisfação com o livro que não tenho receio de indicar a todos os apaixonados por literatura. Garanto que o encanto, a surpresa e a fascinação vão fazer parte de sua leitura. Por isso, não perca tempo e adquira já o seu exemplar. Você não vai se arrepender.


Nota 5: SENSACIONAL


​Informações adicionais

Autor: Raphael Montes

Editora: Companhia das Letras

Ano: 2014

Páginas: 280

Assunto: Literatura Brasileira - Policial

Tipo de capa: Brochura

Sou jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atualmento, faço mestrado de Comunicação na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp).

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Trecho de livro

Tudo muda, penso. Esta é a única constante. Todos crescemos (trecho de O último adeus)

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