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[Resenha] Suicidas



Emoção, entusiasmo, surpresa e encantamento são sentimentos que marcam nossas vidas e como cicatrizes permanecem indeléveis na pele, na memória, na vida. Suicidas não é a primeira obra de Raphael Montes que faz os meus sentimentos passarem por um estágio avançado de ebulição, alcançando um êxtase inimaginável. Foi assim com Dias Perfeitos, O Vilarejo e acredito que será com Jantar Secreto. Diante de tanta satisfação e encanto, seria imperdoável começar essa resenha de outra forma a não ser recomendando a todos que conheçam o trabalho desse magnífico escritor brasileiro.


Lançado em 2012 pela editora Benvirá, Suicidas foi o primeiro romance publicado por Raphael Montes. A história, já iniciada com um prólogo impactante, conta a história de nove jovens cariocas que planejam um encontro em uma casa de férias para participarem de uma roleta-russa, isto é, uma verdadeira viagem com passagem só de ida para o mundo dos mortos. Regados a muitas bebidas e outras drogas, todos, Alessandro, Zak, Daniel, Maria João, Waléria, Lucas, Ritinha, Noel e Otto, têm uma única certeza: o desejo pela a morte.

"Na verdade, todos temos medo de morrer, daquela incerteza escondida de saber se voltaremos vivos para casa, se teremos mais uma noite de sono, mais uma noite de sexo, assistiremos a mais um bom filme ou teremos tempo de terminar o livro que começamos a ler. Afinal, tudo acaba. ninguém morre vazio de sonhos. O morto é enterrado com seus projetos, seus desejos, tudo... Num átimo, o tudo vira nada, e é só. A vida continua. Deus aperta o “Stop”, e acabou sua vez neste mundinho"


O livro é formado basicamente por alguns relatos escritos por Alessandro, mais conhecido como Alê, que pretende transformar suas anotações em uma obra inovadora e criativa, que supostamente lhe proporcionaria sucesso póstumo. Além disso, tem a gravação de uma entrevista realizada com as mães dos jovens, convocadas pela delegada responsável pelo caso, para tentar esclarecer alguns fatos que ocorreram na cena, onde foram realizados os suicídios. A reunião de esclarecimento é proposta devido à descoberta das anotações de Alessandro, que narra cada uma das mortes em detalhes.


"Não sei se vale a pena estar aqui, vivendo esta loucura,narrando cada instante, obcecado, vendo seres humanos definharem diante da morte, rendendo-se ao instinto. Tudo isso para quê? Para ser lido num país onde metade da população é analfabeta. Para realizar um sonho que desde cedo me disseram ser utópico, irreal, coisa de louco"


Alessandro retrata-se como um apaixonado pela escrita e sonha com a possibilidade de se tornar um escritor conhecido, nem que para isso fosse necessário fazer uma loucura. Escritor frustrado por ter suas produções recusadas por todas as editoras consultadas, Alessandro vê na loucura suicida a possibilidade de narrar e deixar para humanidade uma história surpreendente e narrada em tempo real, por meio da observação da realidade. Como vemos, ao longo dos relatos de Alê, o que parecia uma roleta-russa muito bem planejada começa a sair do controle dos participantes. Marcadas por revelações chocantes e cenas violentas e incontroláveis, cada morte é, no bom sentido, uma tapa na cara ou um soco no estômago do leitor.


"Nesse momento, elevei meus pensamentos aos céus, agradecendo a Deus por morar no Brasil. Só num país como este você é liberado carregando drogas e cerveja porque deu quatrocentas pratas para o PM. Isto, sim, é o paraíso!"


Como um bom livro de suspense, Suicidas é rodeado por mistérios, revelações e surpresas. Dessa forma, cada capítulo é organizado a fim de prender a atenção do leitor. A trama, que começa a alcançar uma tensão cada vez mais crescente ao longo da narrativa, é finalizada com chave de ouro, por meio de um desfecho surpreendente, inesperado e incrível.


"Estou aqui, disposto a morrer por isso. Por minha loucura. Por minha louca paixão pela escrita, pelo entretenimento que a literatura pode proporcionar. Estou aqui por você, leitor"


Suicidas, além de uma ótima obra de entretenimento, caracteriza-se perfeitamente como uma obra de reflexão. O próprio Alessandro, a princípio muito consciente de suas ações, é um personagem profundo que proporciona pensar a vida e as mazelas impregnadas no mundo. Além disso, é um livro que propõe discutir a própria humanidade, carregada de preconceitos, egoísmo, ganância, corrupção, isto é, o lado obscuro que todo ser humano tem e luta constantemente para ofuscar – essa é uma característica presente também nas outras obras de Raphael Montes.


"Assim como você, leitor, que percorre com avidez estas linhas, eu queria saber exatamente o que iria acontecer. Por mais macabro que fosse. Por mais louco. E eu não me importo. Não se importe você também. Ninguém está olhando... Ninguém vai nos condenar por estes segundinhos de sordidez..."


Dizer que gostei de Suicida seria muito pouco para demonstrar a minha verdadeira relação com o livro, por isso digo sem necessidade de pensar que amei a obra. Digo sem receio que o livro é recomendado a todos aqueles que admiram uma ótima literatura, de alto nível. Sensacional, incrível, surpreendente... Muitos adjetivos poderiam ser usados para qualificar esse primeiro romance do escritor. Bem, como publiquei no Facebook quando terminei de ler o livro volto a repetir: “Falta ar e reação, sobressai a êxtase, a alegria e a satisfação. É praticamente impossível encontrar palavras para traduzir a alegria de terminar um livro sensacional. Mais um do incrível Raphael Montes”.


Obs: Pessoal, àqueles que estavam procurando a edição do livro e não encontraram para comprar, tenho uma novidade que acabei de descobrir e por isso, vim atualizar a publicação. Raphael Montes divulgou em sua página no Facebook que, em julho/2017, a Companhia das Letras vai publicar uma nova edição de Suicidas, com capa e projeto gráfico inéditos. O escritor cogita também incluir um novo capítulo no livro, que acabou não saindo na primeira edição. Enfim, temos novidades em breve sobre a obra. :)


Para quem ainda não conhecer a página do escritor, é só acessar o link (https://www.facebook.com/raphaelmonteswriter/). Vale a pena curtir para ficar por dentro de todas as novidades referentes às obras do autor.


Nota 5: SENSACIONAL


Informações adicionais

Autor: Raphael Montes

Editora: Benvirá

Ano: 2012

Páginas: 488

Assunto: Literatura Brasileira - Suspense

Tipo de capa: Brochura

Sou jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atualmento, faço mestrado de Comunicação na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp).

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Tudo muda, penso. Esta é a única constante. Todos crescemos (trecho de O último adeus)

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