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[Resenha] O gato na árvore


Diferente do ano passado, em que tive um significativo número de indicação de livros de poesia, este ano fui surpreendido com convites para ler algumas obras focadas em crônicas. O primeiro convite veio de Kelly Christi, autora do maravilhoso livro Quase di Verdadi, já resenhado aqui no blog. A segunda indicação veio de uma parceira mais antiga: a agência Oasys Cultural. Na ocasião, foi-me sugerido a leitura de O gato na árvore. Ao ler a sinopse, não tive dúvida e aceitei a proposta de conhecer e de resenhar essa obra. Já adianto que não me arrependo da decisão.


Marco Antonio Martine é o grande responsável pelo nascimento de O gato na árvore. Tem formação em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-graduação em Língua Portuguesa pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). O Gato na árvore é o primeiro livro de crônicas publicado por autor. Além dessa, tem outras produções, como é o caso de “Capoeira angola mandou chamar” obra de contos que rendeu ao escritor um prêmio entregue pela Fundação de Culturas Cidade do Recife, em 1999. No gênero novela, tem publicado o ebook “Cara preta no mato”. Ainda dentro do universo literário, o escritor participou na elaboração de algumas coletâneas de contos, como “Clube da Leitura – Volume III”, “Escritor Profissional – volume 1” e “Clube da Leitura – volume 4”. Vale lembrar que ele também é membro do coletivo Clube da Leitura.


O gato na árvore é uma coletânea de crônicas, em que nós somos convidados, pelo autor, a nos deliciar com 48 textos curtos e incríveis. Publicado pela editora Moinhos, o livro é recente – lançado no começo deste ano. Baseada em histórias coletadas nas experiências cotidianas do autor, O gato na árvore é um livro que captura atenção do leitor desde o início. Arrisco a dizer que os elementos atrativos podem ser encontrados já na capa da obra, caracterizada pela simplicidade, mas com acabamentos e detalhes que encantam qualquer pessoa.


Ao ler O gato na árvore, remeti-me a 2014, quando tive a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a crônica em uma disciplina do meu curso de graduação. Diante desse conhecimento, diria que os textos de Martine representa perfeitamente o que se chama de crônica clássica, pois encontramos em cada uma de suas histórias elementos característicos do gênero: texto curto, escrito com uma linguagem simples e direta, com relatos de ações de personagens num tempo atual e em um determinado espaço, com a presença do humor e de situações reflexivas.


Escritos de uma forma atenciosa e com muito cuidado, cada crônica de O Gato na árvore é um show de encantamento. Dentre todas as reflexões e questões trazidas pelo autor, a de maior contraste, a meu ver, é a oposição entre passado e presente. A memória e a nostalgia de um tempo que passou estão arraigadas em muitas das crônicas. Em contrapartida a esse saudosismo, o autor sugere ao leitor reflexões sobre as inovações tecnológicas e suas implicações.



"No calor deste verão, importa mesmo a qualidade do aparelho de ar-condicionado, outra novidade que apenas o colega rico da escola gozava. Assim como o videocassete, que no século XXI sumiu da memória. Sumiram também os açougues de rua, tão numerosos antes quanto as farmácias hoje. Multiplicaram-se os carros, caminhões e aviões e tal e tal, etecetera e tal" (p.10).


Ao trazer à tona aparelhos e plataformas como Facebook, Whatsapp, Waze, GPS, o autor nos proporciona riquíssimas reflexões. Como exemplo, podemos destacar nossa dificuldade de perceber o mundo, de vivenciar as situações cotidianas e de mensurar o que realmente tem importância na vida. Temas muito pertinentes na atualidade, quando ainda lutamos para nos adaptar as novas realidades proporcionadas pelas novas tecnologias. Vale lembrar que esse é um ponto que me chamou atenção nos textos do autor, mas elas não se restringem apenas a esse universo.


Bem, há autores que caracterizam a crônica como sendo um texto pontual e efêmero, semelhante ao jornal impresso, que no dia seguinte, geralmente, perde a função informativa para servir de embalagem na feira para embrulhar o peixe. Eu discordo. Acredito que a crônica pode sim ultrapassar o tempo e se eternizar, pois muitas vezes ela se apresenta como atemporais. A meu ver, o livro do Martine vem reforçar isso, por meio de crônicas bem escritas, encantadoras e reflexivas. Vale a pena, conhecer de perto cada um dos textos escritos pelo autor.

Fica o convite!

Nota 5 - SENSANCIONAL

Informações adicionais

Autora: Marco Antonio Martine

Editora: Moinhos

Ano: 2018

Páginas: 123

Assunto: coletânea de crônicas

Tipo de capa: Brochura

Sou jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atualmento, faço mestrado de Comunicação na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp).

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Trecho de livro

Tudo muda, penso. Esta é a única constante. Todos crescemos (trecho de O último adeus)

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