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Antes de colocar o dedo em ação, pare, pense e analise


Sempre fui uma pessoa imaginativa. Por conta disso, passo boa parte do meu tempo, idealizando histórias, criando situações para tentar solucionar e pensando sobre o mundo. Para ser mais incisivo procurava ao máximo me manter na minha e em meu estado introspectivo. Nunca fui o tipo de pessoa interessada em ficara observando as outras a fim de destacar as suas qualidades ou os seus defeitos, principalmente, os defeitos, pois nunca me achei no direito de ridicularizar alguém, afinal, somos todos imperfeitos.


Acho muito indelicado quem se dá ao luxo de apontar o dedo para ridicularizar outra pessoa. Se fossem palavras de elogios ou de qualidades, não me incomodaria, mas, na maioria das vezes, quando elas vêm, são carregadas de aspectos ásperos e negativos. Atestamos com isso a necessidade de menosprezar ou ridicularizar o outro, para que assim possamos nos sentir superiores. Mesquinharias, porém uma realidade.


Em muitos momentos na adolescência, já estive em grupos com olhos clínicos para ficar reparando os outros. Eu me recusava a fazer parte. Envergonhado, baixava a cabeça e, em minha mente, pensava com que direito aquelas pessoas ridicularizavam as outras. Nada era perdoado: cabelo, roupa, modo de andar, tudo era motivo de críticas negativas. E não pense que isso é uma fase da adolescência, está em todas as etapas da vida.


Tenho uma teoria de que os maiores gozadores são aqueles que se acham superiores. Seres perfeitos, destituídos de defeitos. Ou são aqueles que têm tantos defeitos que para ofuscá-los ridicularizam os outros.


Minha convicção contrária a ridicularização tornaram-se ainda mais alarmantes quando passei a fazer parte da classe menosprezada. Não é fácil ouvir as pessoas falando de você. Ainda mais quando isso é feito nas suas costas. Depois disso, eu tomei uma atitude muito mais crítica e passei a questionar todos aqueles que se dão o direito de falar dos outros. Já fiz muitas pessoas ficarem sem graça.


As minhas convicções me fazem pensar que só tenho o direito de ridicularizar uma pessoa a partir do momento em que tenho consciência de todos os meus defeitos. Como não tenho essa proporção, não me considero uma pessoa apta para criticar o outro. Sem contar que acho uma covardia tremenda ridicularizar uma pessoa pelas costas. A meu ver, é muita falta de senso e respeito com o próximo.


Uma situação inusitada que vivenciei na universidade me fez pensar que muitas vezes apontamos, nos outros, os nossos próprios defeitos. Achamos-nos tão superiores que nos esquecemos de olhar no espelho e perceber que somos seres humanos, imperfeitos e e cheios defeitos.


Certa vez, estava eu em meu quarto, na época em que ainda morava em uma moradia estudantil. Provavelmente deveria estar estudando. Em um momento de distração, minha concentração foi captada por uma conversa que vinha entre dois companheiros de quarto. Com já havia deixado o estudo, não vi problema em dedicar um tempinho para ouvir a conversa. Quando de repente, fui surpreendido pelo seguinte diálogo:


“Cara, hoje no ônibus de volta para casa tinha uma menina muito estranha me encarando. Tenho certeza que ela se interessou aqui pelo papai. Mas pensa em uma menina zoada. E o pior de tudo, ela era vesga. Era até difícil saber para onde estava olhando”, comentou em meio a risos.


O outro foi incisivo e logo deu uma resposta: “Cara, eu não sei o que você está falando. Não sei se você já parou para perceber, mas você também é vesgo”.


Senti-me contemplado por essa resposta, afinal a primeira coisa que pensei foi como ele poderia estar criticando uma característica que ele mesmo tinha. Dei um riso irônico e esperei uma manifestação. Nada. Aos poucos percebi que o silêncio que invadiu, inesperadamente, aquele quarto, veio carregado de simbologias. Não via a reação dele. Mas espero que isso tenha significado alguma coisa para ele.

Sou jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atualmento, faço mestrado de Comunicação na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp).

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Trecho de livro

Tudo muda, penso. Esta é a única constante. Todos crescemos (trecho de O último adeus)

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