top of page

[Resenha] A Menina Submersa


Ontem, terminei de ler mais um livro da DarkSide Books. A primeira vista, estava bem confuso. Sentia que tinha uma noção da história, mas, ao mesmo tempo, minha versão parecia um pouco estranha. Para saber se havia algum sentido em minha percepção sobre o livro, tive de primeiramente assistir a umas resenhas no YouTube. No fim, percebi que muitos leitores compactuavam com o meu modo de interpretar A Menina Submersa. Assim, pude confirmar a minha habilitação para contar um pouco mais sobre essa história encantadora.


Escrito por Caitlín R. Kiernan, A Menina Submersa foi publicado aqui, no Brasil, pela DarkSide Books em 2014. Já vi o livro em duas versões: em brochura e em capa dura. A minha é a edição especial que, além da capa dura com detalhes em altorrelevo, apresenta a lombada das folhas cor de rosa. A primeira vista não chama muito a atenção, porém o contato com a obra muda o ponto de vista de qualquer pessoa. É incrível.



Em A Menina Submersa, nós leitores estamos diante de uma espécie de diário memorial de India Morgan Phelps. Imp, como é conhecida, tem esquizofrenia. O distúrbio cerebral é considerado pela personagem como uma síndrome hereditária que amaldiçoa a vida de algumas mulheres de sua família, como ela, sua avó Caroline e sua mãe Rosemary, que deixam Imp ainda na adolescência. Mãe e avó, incapazes de lidar com a doença, se libertam da vida por meio do suicídio.


India começa a escrever a sua memória aconselhada por sua psiquiatra. Desde o início, a personagem, além de contar um pouco de sua história e de sua família, ainda apresenta ao leitor que escreve a fim de colocar no papel as histórias dos fantasmas que atormentam a sua vida. Os fantasmas se tornam mais presentes quando Imp conhece Evan, mulher que a protagonista tenta, a todos os momentos, desvendar a personalidade. A história se desenvolve ao longo dessa obsessão.


A Menina Submersa é um livro difícil, que exige concentração e paciência. A complexidade do livro está intimamente ligada ao distúrbio cerebral da personagem. A obra tem uma narrativa não linear, complementada com poemas, contos, crônica e histórias que fazem parte do universo da protagonista. A não linearidade deixa a história ainda mais difícil de acompanha, pois a protagonista mistura histórias e, como ela mesma diz, procrastina para chegar aos aspetos mais importantes de sua memória. A meu ver, a complexidade torna o livro mais incrível.


"Na minha mente, isso tudo forma um circulo perfeito, um circulo elegante e inescapável. Mas, ao ver no papel, parece meio confuso. Tenho medo de que não fique claro de modo algum o que eu quero dizer. O que eu quero tirar da minha mente e colocar em algum lugar fora de mim. Não sei as palavras exatas, talvez porque não há palavras certas para trazer uma assombração para a luz e prendê-la com tinta e papel."


Eu já ouvi falar de pessoas que desistiram do livro por achá-lo confuso. A princípio, ele realmente é um pouco confuso, mas, ao longo da leitura, as coisas vão se encaixando, vamos pegando o ritmo do livro e acabamos nos apaixonando por ele. Eu demorei um tempinho considerável para conseguir terminar A Menina Submersa. Entretanto, todas as vezes que pegava o livro para ler era levado para um mundo diferente, o mundo de Imp. Mundo esse repleto de histórias encantadoras de sereias, de lobos e de fantasmas, carregadas de metáforas e jogo de palavras.


Nada em A Menina Submersa é simples, até mesmo os gostos e as personalidades das personagens são complexos. Nele além de Imp que é esquizofrênica e tem interesse por pessoas do mesmo sexo, temos Abalyn uma de suas namoradas, que é uma transexual. Achei muito interessante com os temas foram tratados dentro da narrativa. Eu conhecia sobre a transexualidade por ter uma amiga muito próxima que é, mas para quem não tem informação sobre o assunto, a obra o apresenta de uma forma muito madura, conscientizando e desmistificando muitos preconceitos.


"Sempre fui mulher, Imp. Os hormônios e a cirurgia não me modificaram de uma coisa para outra. Por isso odeio a expressão 'troca de sexo'. Ela é enganosa. Ninguém nunca mudou o meu sexo. Eles deixaram a carne mais em linha com a minha mente. Com meu gênero"


Eu gostaria de apresentar todas as minhas percepções sobre A Menina Submersa, mas, além de ficar um texto extenso e maçante, não conseguiria passar tudo. Eu recomendo a obra a todas as pessoas. É uma história confusa, complicada e difícil, porém encantadora. A meu ver, vale muito a pena o esforço de lê-lo. A Menina Submersa é um livro inovador em muitos sentidos. Além disso, é a oportunidade que temos de conhecer um pouco da mente de uma pessoa que sofre de esquizofrenia. Para resumir, a obra é uma complexidade que encanta.

Nota 4: INTERESSANTE

Informações adicionais*

Tradução: Ana Resende e Carolina Caires Coelho

Editora: DarkSide Books

Ano: 2014

Páginas: 320

Assunto: Literatura Americana/Ficção/Fantasia

Tipo de capa: Capa Dura

*Detalhes referente à minha edição

 

Esta resenha participa da Dark Season. Para saber mais detalhes e

concorrer a um livro da editora DarkSide Books clique aqui.

 

Sou jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atualmento, faço mestrado de Comunicação na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp).

Sobre mim

Marcadores

Nenhum tag.

Trecho de livro

Tudo muda, penso. Esta é a única constante. Todos crescemos (trecho de O último adeus)

bottom of page