top of page

Um basta à hipocrisia


É difícil distanciar a chamada hipocrisia quando nos desafiamos a observar a história do Brasil. Ela se destacava na monarquia, na primeira república, na ditadura civil-militar e, agora, se sobressai na contemporaneidade. É incrível a sua onipresença. E, para quem na sabe, um dos grandes objetivos da hipocrisia tem sido viver no anonimato. A fama não é muito bem vista, isso porque ela gera transtorno. Entretanto, a história escancara que existem momentos em que fica complicado a manutenção do anonimato e eis que a hipocrisia aparece transvestida de máscaras, na maioria das vezes, positivas, dizendo-se preocupada com o bem comum, mas não se iludam isso é apenas uma falsa aparência.


Vivemos um tempo complicado e decisivo. Complicado, pois estamos presenciando um momento carregado de retrocessos. E decisivo, porque esses mesmos retrocessos vão acarretar graves problemas no futuro do país, sobretudo para a classe menos favorecida. Quando digo retrocessos, estou me referindo a uma série de boicotes e golpes que temos presenciado ultimamente. Primeiro, um processo de impeachment completamente inconstitucional e, agora, a imposição de projetos de reforma da educação, da saúde e, em breve, da previdência social.


A PEC 241 (PEC 55) foi criada por este governo que diz representar e estar preocupado com a sociedade brasileira. A proposta que propõe a mudança da constituição prevê o congelamento de investimento em saúde e educação por 20 anos. Isso é colocado como a melhor forma de resolver o déficit fiscal do país. Como sempre, mais uma vez, a sociedade é forçada a ceder aos seus direitos a fim de resolver um problema que não gerou. Possibilitando assim, a manutenção do poder nas mãos de um grupo pequeno que vive por meio da exploração da sociedade. Digo isso, pois, ao passo em que se discuti o processo de sucateamento da educação e do sistema de saúde, acompanhamos a ampliação dos benefícios dos mais poderosos, com aumento de salários e bolsas de auxílio.


Para quem tem acesso aos meios alternativos de informação, provavelmente, vem acompanhando as ocupações de escolas e de universidade em todos os cantos do Brasil. Vemos jovens que lutam pelo seu direito de ter uma educação de qualidade. Que luta contra os retrocessos que vem sendo anunciada pela tão temida PEC 241. Eles apenas clamam para terem o direito que a própria constituição assegura, o direito de uma educação de qualidade. Enquanto clamam por serem ouvidos, são violentados, desqualificados e desrespeitados. As discussões continuam. Por que a sociedade que clama não é ouvida? Justamente, porque a preocupação dessas reformas não é assegurar os direitos sociais, mas favorecer uma elite, que vive sugando a energia, o dinheiro e os direitos do povo.


Quando digo que a hipocrisia, muitas vezes, aparece transvestida da solidariedade parece uma falácia, mas é justamente o que presenciamos na contemporaneidade. É cômico presenciar a hipocrisia de um governo que se diz preocupado com o bem da sociedade, ao passo que, na verdade, presenciamos a violação de direitos. A sociedade se manifesta e o que acontece? Além da violência, nada, o golpe continua em processo. É duro dizer, mas a hipocrisia reina na sociedade e é só com luta e resistência que vamos conseguir impor nossas vontades. Chega de hipocrisia. E viva o direito de lutar e de resistir ao retrocesso.

Sou jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atualmento, faço mestrado de Comunicação na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp).

Sobre mim

Marcadores

Nenhum tag.

Trecho de livro

Tudo muda, penso. Esta é a única constante. Todos crescemos (trecho de O último adeus)

bottom of page