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[Resenha] O Vilarejo


O caráter do homem é o seu próprio demônio. É essa frase impactante e forte de Heráclito que precede o prefácio de O Vilarejo e, diante dessa frase que está intimamente relacionada com a temática do livro, que, desde o início, somos preparados para a tônica sombria dessa obra maravilhosa, publicada por Raphael Montes, em 2015, por meio da editora Suma de Letras.


No prefácio do livro, Montes já apresenta a sua criatividade ao contar para nós leitores de onde supostamente teria surgido os contos e as ilustrações presentes na obra por meio de um recurso fictício com tom de realidade incrível. De acordo com o escritor, em 2014, ele teria recebido uma ligação de Maurício Gouveia, sócio do sebo Baratos da Ribeiro, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Gouveia entra em contato com Montes a fim de saber se ele estaria interessado em três cadernos escritos à mão por Elfrida Pimminstoffer, idosa falecida há pouco tempo com cento e dois anos. Gouveia pensa em Montes quando a neta da idosa que havia vendo alguns livros para o sebo se recusa a ficar com os cadernos, até sugere que seja queimado.


O autor se interessou e entra em contato com os cadernos. O manuscrito de Pimminstoffer encontrava-se em um idioma não identificado a princípio por Montes. Entretanto, após várias pesquisas, o escritor descobriu que se tratava de uma língua morta pertencente ao ramo botno-úgrico, conhecida como ciméria. A força de vontade de desvendar o que havia por detrás daquelas palavras levou Montes até o professor Uzzi-Tuzii, chefe departamento de línguas botno-úgricas da Università Degli Studi di Udine, na Itália e último conhecedor da língua. O professor de recusa a traduzir o manuscrito, mas providencia a Montes um dicionário cimério-italiano. A partir daí, o escritor começou o trabalho de tradução dos escritos de Pimmenstoffer.


Em O Vilarejo, somos apresentados a sete contos (Belzebu, Asmodeus, Mammon, Balphegor, Satan, Leviathan e Lúcifer). De acordo com um famoso padre Binsfeld, os Sete Reis do Inferno esses que aparecem como nome de cada conto na obra representava um dos sete pecados: Asmodeus (luxúria), Belzebu (gula), Mammon (ganância), Belphegor (preguiça), Satan (ira), Leviathan (inveja) e Lúcifer(soberba). Sendo assim, cada um dos contos trazem em evidência um desses pecados.


Embora os contos tenha relação entre si e se relacionam ao mesmo Vilarejo, eles não necessariamente precisam ser lidos na ordem, porém adorei acompanhar a história de acordo como ela foi organizada por Montes.


"Como tradutor, tomei a liberdade de ordenar as histórias como me pareceuideal. De todo modo, é bom que se diga que elas podem ser lidas em qualquerordem, sem prejuízo da compreensão, pois se relacionam de maneira difusa, mascom personagens e fatos em comum, todos situados no mesmo vilarejo."


Com toda a conotação a pecados e demônios, não é de se estranhar que O Vilarejo não é um livro com histórias bonitas e agradáveis, pelo contrário, são carregados de histórias sombrias, grotescas, violentas e até mesmo chocantes. No entanto, apesar desse aspecto, os contos apresentam uma característica incrível de surpreender o leitor a cada nova história trágica.


Além das histórias mirabolantes, outra coisa que achei muito interessante foi fato de os contos serem independentes, mas como uma relação impressionante, tanto que, quando términos de ler todos eles, ficamos diante de toda a dimensão da história do vilarejo.


Para não acabar cometendo alguma gafe, na pretendo trazer muitos detalhes da obra. Como deu para perceber todas as histórias acontecem em um vilarejo que é dizimado aos poucos devido aos próprios pecados que adquirem potencia nos moradores do vilarejo.


A meu ver, esse é um dos melhores livros que já li nos últimos anos. Com ele, senti sensações incríveis. Pude refletir sobre muitas coisas. E depois de várias histórias sensacionais, terminei o livro com uma salva de palmas e emocionado, por estar diante de uma obra com uma qualidade imensurável. É um livro que deve ser lido por todos, sobretudo por aqueles que, como eu, é apaixonado por obras de terror.


Por fim, gostaria de agradecer ao Raphael Montes por publicar esse livro incrível. Depois dessa obra, Montes conquistou o meu respeito. Falam palavras para descrever o quanto gostei dessa obra. Mas gostaria de terminar agradecendo ao escritor.


Obrigado, Raphael Montes e parabéns.


Nota 5: SENSACIONAL


Informações adicionais

Autor: Raphael Montes

Editora: Suma de Letras

Ano: 2015

Páginas: 96

Assunto: Terror

Tipo de capa: Brochura



Sou jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atualmento, faço mestrado de Comunicação na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp).

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Trecho de livro

Tudo muda, penso. Esta é a única constante. Todos crescemos (trecho de O último adeus)

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